Cultivo prolongado reduz a retenção de imidacloprid no solo de citros
Pesquisa chinesa mostra que solos de pomares antigos acumulam mais matéria orgânica, mas perdem eficiência na fixação do inseticida
Uma linhagem de Drosophila suzukii apresenta resistência elevada ao inseticida imidacloprido no município de Paula Cândido, em Minas Gerais. A conclusão conta em estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
D. suzukii é capaz de infestar morangos, uvas, figos, pêssegos, ameixas, entre outros frutos. Ela se diferencia de outras drosófilas por ovipositar em frutos ainda íntegros, o que gera perdas diretas na lavoura.
Há poucos estudos sobre resistência a inseticidas nessa espécie na região neotropical. A pesquisa da UFV, liderada por Felipe Andreazza e Eugenio Oliveira, preenche essa lacuna ao avaliar populações da mosca coletadas em três estados do sudeste brasileiro e expostas a quatro ingredientes ativos: deltametrina, permetrina, espinetoram e imidacloprido.
Dentre as amostras analisadas, apenas a população de Paula Cândido demonstrou resistência significativa. Mesmo quando exposta a uma dose dez vezes superior à concentração letal média de imidacloprido, a mortalidade ficou abaixo de 54%. Esse resultado contrasta com as outras populações testadas, incluindo uma de Ervália, a apenas 24 km de distância, que mostrou total suscetibilidade.
A resistência observada está associada à presença de enzimas de desintoxicação, em especial as da família do citocromo P450. Quando os indivíduos resistentes foram previamente tratados com piperonil butóxido, um inibidor dessa enzima, a mortalidade aumentou, o que confirma o papel desses mecanismos metabólicos no fenômeno.
A hipótese dos pesquisadores é que o uso intensivo e frequente de neonicotinoides na região, principalmente no cultivo de café e goiaba, esteja pressionando a seleção de indivíduos resistentes. Em culturas como a goiaba, inseticidas à base de imidacloprido são aplicados quinzenalmente, e há registros da sobrevivência de D. suzukii em frutos em decomposição de café, que podem funcionar como abrigo temporário da praga fora da safra principal.
O estudo recomenda a rotação de ingredientes ativos com diferentes modos de ação, monitoramento contínuo de resistência e uso racional dos inseticidas. A adoção de práticas como o controle biológico, uso de armadilhas atrativas e manejo cultural deve ganhar protagonismo para reduzir a dependência dos químicos e manter a eficácia dos produtos existentes.
A resistência identificada em Paula Cândido permanece mesmo após oito gerações da praga criadas em laboratório sem exposição ao inseticida, o que sugere que o traço está bem estabelecido naquela população. A disseminação de indivíduos com esse perfil genético pode comprometer o controle em outras regiões produtoras de frutas.
Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.3390/insects16050494
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