Vegetação em expansão acelera a seca do solo no mundo

Estudo global revela que o avanço do verde agrava a perda de umidade do solo em áreas cultivadas e semiáridas

29.07.2025 | 10:44 (UTC -3)

Vegetação mais verde, solo mais seco. Essa é a principal conclusão de um estudo que avaliou dados de satélite e modelos climáticos de 1982 a 2020. Os resultados mostram que 49,96% das áreas vegetadas do planeta apresentam um padrão de “verdejamento com secagem”, principalmente em pastagens e terras agrícolas. O fenômeno, impulsionado por maior transpiração vegetal, tende a persistir até 2100.

A pesquisa combinou observações de satélite, dados de reanálise e simulações de 12 modelos do sistema terrestre (ESMs). A resolução foi padronizada em 0,25° para garantir comparabilidade. Os dados revelam que a intensificação da vegetação aumenta a evapotranspiração global, o que extrai umidade do solo em ritmo acelerado.

Áreas como a Ásia Central, a África Central e o sul da Austrália, com clima semiárido, estão entre as mais afetadas. A intensificação do ciclo da água, provocada pelo verde, aumenta a variabilidade hídrica, criando desequilíbrios que ampliam o risco de secas, enchentes e ondas de calor.

Entre os sete principais tipos de cobertura vegetal analisados, as lavouras foram as mais sensíveis à perda de umidade do solo. A taxa de redução alcançou −1,13 × 10⁻³ m³ m⁻³ por ano, segundo o ERA5. Nas florestas, os efeitos foram mais moderados. Porém, mesmo os sistemas florestais — frequentemente apontados como aliados do equilíbrio hídrico — mostraram capacidade limitada de retenção de água no longo prazo.

Vegetação e água

A vegetação, descrita como reservatório natural de água, atua como reguladora do ciclo hídrico terrestre. No entanto, seu crescimento acelerado altera o balanço entre precipitação e evapotranspiração. A água retirada do solo pelas raízes das plantas é devolvida à atmosfera, mas nem sempre retorna em forma de chuva. Quando o aumento da transpiração supera os ganhos por precipitação, o resultado é perda líquida de umidade.

No caso das terras agrícolas, a relação entre vegetação e umidade do solo se agrava pela dependência de irrigação. Sistemas cultivados tendem a interagir mais intensamente com o lençol freático. Como consequência, mesmo quando há aumento de vegetação, a umidade do solo segue trajetória de declínio.

Em pastagens e savanas, a vegetação regula o acesso à água conforme a profundidade das raízes. Plantas de regiões áridas desenvolvem raízes mais longas, capazes de captar água do subsolo. Esse mecanismo, embora eficiente para a sobrevivência das plantas, acentua a extração de umidade e aumenta a vulnerabilidade à seca.

Em regiões úmidas, como o sul da China e partes da Índia, o verde pode beneficiar o solo ao intensificar o ciclo da água e aumentar as chuvas. Porém, esse efeito positivo é limitado e instável, dependendo do equilíbrio local entre evapotranspiração e precipitação. A variabilidade espacial e temporal dificulta a previsão dos impactos e exige monitoramento contínuo.

Vegetação e umidade do solo

Para verificar a causalidade entre a vegetação e a umidade do solo, os pesquisadores aplicaram testes de causalidade de Granger. Em mais de 30% das áreas analisadas, a atividade da vegetação demonstrou ser fator causal da perda de umidade, especialmente sob os cenários futuros de mudança climática (SSP245 e SSP585).

Nos próximos 75 anos, os modelos indicam que o aumento da produtividade vegetal — representada por GPP (Gross Primary Productivity) — continuará a intensificar a transpiração. A sensibilidade do solo a esse processo tende a crescer. Em 87,2% das áreas vegetadas, a evapotranspiração exercerá influência direta na umidade do solo. Em 35,39% dessas áreas, esse impacto será muito alto.

O estudo aponta que regiões como América do Sul, Índia e Sahel devem enfrentar maior risco de seca. Em contrapartida, áreas de latitudes altas, acima de 60°N, mostram tendência de aumento da umidade do solo, provavelmente por efeito do degelo e aumento de precipitação.

Cobertura vegetal

A resposta do solo à vegetação varia conforme a cobertura vegetal. Florestas tropicais demonstraram sensibilidade maior à interceptação de chuva pela copa. Já em lavouras, o principal fator foi a variação no armazenamento hídrico do solo. Em pastagens e áreas de arbustos, a evapotranspiração dominou a dinâmica de umidade.

O trabalho utilizou séries temporais de 40 anos com dados do GIMMS NDVI, MODIS, GOSIF e NOAA. Para a umidade do solo, empregou os conjuntos ERA5 e GLEAM, validados por dados do GLDAS e MERRA-2. Os modelos CMIP6 permitiram a projeção até 2100 sob dois cenários climáticos.

Outras informações em doi.org/10.1038/s43247-025-02470-3

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