Tarifas americanas impactam o mercado global de cacau

Costa do Marfim (tarifa de 15%) é a principal fornecedora de grãos do país norte-americano

13.08.2025 | 14:36 (UTC -3)
Milena Camargo

Os preços do cacau referentes ao contrato de dezembro 2025 encerraram a última sexta-feira (8), a USD 7.978/t em Nova York e GBP 5.415/t em Londres, acumulando altas semanais de 5,6% e 0,6%, respectivamente. Esse cenário difere do registrado no início da semana, quando os preços da commodity recuaram nos futuros, garantindo ao cacau mais um período marcado por volatilidade, em parte devido a temores quanto à oferta e incertezas sobre a demanda.

“A nova rodada de taxas, que entrou em vigor no dia 7 de agosto, inclui os principais parceiros comerciais dos EUA e que correspondem a mais de 50% de todo o volume importado. Dessa forma, a política comercial pode impactar a inflação do país, acrescentando incertezas e podendo alterar custos e fluxos do comércio internacional”, diz Carolina França, Analista de Inteligência de Mercado da Hedgepoint.

Os Estados Unidos ocupam posição de destaque no mercado global de cacau, sendo um dos principais consumidores da matéria-prima e exportadores de chocolate e confeitos. Para sustentar essa dinâmica, o país depende da importação de amêndoas de cacau e seus derivados, que são fundamentais para abastecer sua indústria e atender à demanda interna. No ano de 2024, das importações líquidas totais de cacau do país, amêndoas, pasta, pó e manteiga representaram 39%, 25%, 19% e 17%, respectivamente.

Ao avaliar as importações por origem e por tipo de produto, para as amêndoas, o principal parceiro dos EUA é a Costa do Marfim, taxada em 15%. Apesar da nova tarifa ser inferior a de 21% anunciada em abril, autoridades do país levantaram a possibilidade de buscar novos mercados que permitam melhor comércio e competitividade para o cacau marfinense, o que pode levar a mudanças nos fluxos comerciais da commodity. “Sob esse contexto, observa-se um aumento da participação do Equador nas importações de amêndoas dos EUA no último ano em relação ao anterior, impulsionado pela queda na produção da Costa do Marfim, e para o qual as tarifas atuais representam um peso adicional”, diz.

“Quanto aos subprodutos, países importantes como Malásia (19%), Indonésia (19% após negociação) e Índia (25%) possuem taxas que tendem a encarecer a matéria-prima usada pela indústria americana. Estima-se que o aumento do custo de produção em função das tarifas dá vantagem competitiva a fabricantes do Canadá e México em comparação com os EUA, devido aos acordos comerciais entre os três países, aumentando as preocupações sobre o setor no país”, explica.

De acordo com análises da Hedgepoint, em abril, após a primeira rodada de tarifas, já se discutia a possibilidade de mudanças no processamento e no fluxo comercial de cacau como alternativa para reduzir custos frente às tarifas impostas pelos EUA. Entre as estratégias avaliadas, estava o desvio de amêndoas para países próximos aos Estados Unidos com tarifas mais baixas e capacidade de moagem, como Canadá, México, Brasil e Gana, permitindo suprir a demanda norte-americana a partir de outras origens.

“No entanto, o cenário atual mudou. O Brasil, que hoje importa grãos por possuir capacidade de processamento maior do que a produção interna, passou a enfrentar uma tarifa de 50% para exportações aos EUA, o que inviabiliza essa alternativa e representa um impacto relevante, especialmente porque o país é também fornecedor de manteiga de cacau para o mercado norte-americano”, observa.

Apesar dos temores, as importações líquidas totais de cacau (amêndoas, manteiga, pó e pasta) dos EUA retornaram a patamares médios no mês de junho, principalmente pelo maior volume de subprodutos importados. Para a analista, além da sazonalidade, esse movimento pode sinalizar uma demanda relativamente mais resiliente, considerando que o resultado de moagem do segundo trimestre de 2025 para região, segundo relatório da NCA, apresentou queda menos acentuada do que na Ásia e Europa. Além disso, o aumento nas compras pode refletir também uma antecipação às tarifas que passaram a vigorar na semana anterior, com importadores buscando garantir estoques antes do impacto direto nos custos.

“O mercado segue atento aos desdobramentos das novas tarifas, não apenas pelo potencial de alterar fluxos comerciais e preços no setor de cacau, mas também pelos seus reflexos sobre a inflação e a economia norte-americana. A forma como esses fatores irão se combinar deve influenciar o comportamento dos agentes e contribuir para a manutenção da volatilidade que vem caracterizando o mercado em 2025. Paralelamente, ainda há expectativa quanto aos resultados de produção da safra 2024/25 e ao início da temporada 2025/26, o que adiciona mais uma camada de incerteza ao cenário de preços”, afirma.

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