Relatório do Rabobank indica transformações no sistema alimentar global

O aumento da produtividade agrícola tem se mostrado cada vez mais difícil de alcançar

08.04.2025 | 13:36 (UTC -3)
Revista Cultivar

O sistema alimentar global está enfrentando um período de profundas transformações. A desaceleração no crescimento da demanda por alimentos e a estagnação na produção agrícola são apenas alguns dos desafios que os agentes da cadeia de valor precisarão enfrentar nas próximas décadas. A análise consta em estudo do Rabobank.

Estudos apontam que a crescente volatilidade no mercado alimentar não é apenas uma questão de oferta e demanda, mas também o reflexo de um modelo econômico global que se aproxima do seu limite. É o que dizem os analistas da instituição.

A redução da capacidade de expansão das áreas agrícolas e a crescente escassez de recursos naturais são fatores que dificultam o aumento da produção. Ao mesmo tempo, as políticas de sustentabilidade se tornam mais rigorosas, forçando empresas e governos a reavaliar seus compromissos.

Desaceleração da demanda

O crescimento populacional e o aumento da renda continuam a ser os principais motores da demanda por alimentos. No entanto, os padrões de crescimento não são mais homogêneos.

Enquanto regiões como África e Oriente Médio continuam a registrar altas taxas de crescimento populacional, países como China, Japão e os da Europa experimentam quedas significativas.

Além disso, a busca por dietas mais equilibradas em regiões mais ricas também está moldando as preferências alimentares, com um foco crescente em alimentos de qualidade em vez de volume.

Estagnação na produção

Nos últimos anos, o aumento da produtividade agrícola tem se mostrado cada vez mais difícil de alcançar. A utilização de fertilizantes sintéticos, sementes melhoradas e maquinaria avançada, que por décadas impulsionaram os ganhos de produção, está mostrando resultados decrescentes, aponta o relatório do Rabobank.

Em contrapartida, tecnologias emergentes, como a aquicultura e a fermentação de precisão, têm se destacado como alternativas promissoras. A aquicultura, por exemplo, tem mostrado um crescimento expressivo na produção de proteínas animais, e espera-se que continue a ser uma solução eficiente frente à limitação de terras e recursos.

Tensões comerciais e políticas

Nos últimos anos, a política comercial global tem sido marcada por um aumento nas restrições, com países buscando maior autonomia estratégica. A ascensão do "grand macro strategy", com políticas econômicas focadas na independência nacional, tem resultado em uma crescente incerteza sobre o futuro das cadeias de suprimento.

Países da América do Sul, por exemplo, passaram a ser os maiores exportadores líquidos de produtos agrícolas, enquanto a China se tornou o maior importador mundial. A continuidade da guerra comercial e a imposição de tarifas estão complicando ainda mais as transações globais.

Volatilidade e cadeias de suprimento

Nos últimos 20 anos, o mercado de alimentos se tornou cíclico, alternando entre períodos de escassez e abundância, afetados por fatores como mudanças climáticas, crises geopolíticas e o próprio sistema de comércio global.

As empresas enfrentam o dilema de garantir o fornecimento de produtos por meio de contratos de longo prazo, quando há escassez, ou buscar flexibilidade em mercados volúveis, quando a oferta é mais abundante.

Esse cenário gera margens mais altas para os processadores de alimentos, que precisam lidar com a volatilidade nos preços das matérias-primas.

Papel crescente da sustentabilidade

As questões de sustentabilidade se tornaram centrais no debate sobre o futuro do setor agrícola. Em regiões de alta renda, como a União Europeia, empresas e governos estão sendo pressionados a reduzir as emissões de carbono e adotar práticas mais ecológicas.

No entanto, a implementação de políticas de sustentabilidade tem mostrado resultados diversos. As metas voluntárias de sustentabilidade estabelecidas por grandes empresas estão sendo progressivamente ajustadas, com algumas até abandonando compromissos devido à pressão pública e às dificuldades econômicas.

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