Preço do café avança com oferta brasileira em baixa

Hedgepoint indica volatilidade no mercado global, além de preocupações com queda nos estoques e desafios climáticos

22.08.2025 | 15:23 (UTC -3)
Milena Camargo

O mercado de café permaneceu altamente volátil nos últimos dias, em meio às incertezas no comércio entre os Estados Unidos e o Brasil e na disponibilidade do produto. Após um início mais lento em agosto, quando os futuros do Arábica e do Robusta apresentaram pouca variação, os preços voltaram a subir com força na semana passada em meio a crescentes preocupações com a oferta. Na segunda-feira, 11 de agosto, foram registradas geadas fracas em partes do sul de Minas Gerais e do Cerrado Mineiro, no Brasil.

Segundo a analista de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets, Laleska Moda, embora se espere que as geadas tenham um impacto não tão amplo na safra 26/27, uma vez que foram menos intensas e afetaram uma área menor do que as de 2021 – ano com grande impacto desse evento nas lavouras de café – o efeito real do tempo frio só poderá ser verificado após a floração da próxima safra.

Além das geadas, o mercado também tem acompanhado as quedas consecutivas nos estoques certificados pela ICE para o Arábica na semana passada (veja o relatório aqui). “Os estoques estão abaixo da média e dos níveis de 2024, com uma queda significativa da participação dos grãos brasileiros e um baixo volume de café pendente para classificação, o que pode potencialmente destacar um desafio na recuperação do volume. Não só os diferenciais brasileiros atuais não favorecem o envio de café para estoques certificados, mas os cafeicultores continuam a mostrar pouco interesse em negociar grandes volumes”, diz.

A comercialização da safra 25/26 e as exportações brasileiras também seguem muito lento, abaixo da média de 5 anos, tanto para o Arábica quanto para o Conilon. No caso do Robusta/Conilon, é interessante notar que grande parte do volume já vendido deverá ser redirecionado para o mercado interno devido aos seus preços mais baixos em comparação com o Arábica.

“Os embarques podem seguir mais baixos devido à falta de interesse dos cafeicultores em novas vendas e às incertezas em torno do comércio global. Muitos agricultores no Brasil estão esperando o início das floradas da temporada 26/27 para retornar ao mercado, essencial para estimar a produção no próximo ciclo”, explica.

Esse cenário de menor oferta brasileira, queda dos estoques certificados e incertezas climáticas também vêm estimulando os fundos especulativos a aumentarem suas posições compradas, o que também se refletiu na forte escalada dos preços nos últimos dias. O contrato Dezembro/25 do Arábica, agora o mais líquido, já está em seus níveis mais altos em mais de três meses, se aproximando dos patamares de 380 c/lb novamente.

Comercialização Global

Em relação ao comércio global, novos negócios entre os EUA e o Brasil continuam travados, uma vez que ainda não foi alcançado um acordo. Segundo a Cecafé, os compradores norte-americanos começaram a pedir às empresas sediadas no Brasil que adiassem os embarques de café para o país, a fim de evitar a tarifa de 50%. Na semana passada, o presidente da Cecafé, Marcio Ferreira, comentou que as indústrias de café dos EUA têm estoques para 30 a 60 dias, o que lhes dá alguma margem para esperar um pouco mais pelas negociações em andamento e uma possível isenção das tarifas sobre o café.

No entanto, de acordo com análises da Hedgepoint, a maior parte das outras origens estão na entressafra, com estoques limitados, e não se espera maior disponibilidade até meados de novembro, após o início da colheita principal da safra 25/26. Os diferenciais na maior parte da Ásia, América Central, Colômbia e África Oriental aumentaram nas últimas semanas, refletindo esse cenário.

“Esse quadro de menor oferta pode forçar os importadores e torrefadores dos EUA a procurar café brasileiro. Enquanto isso, o governo brasileiro divulgou um pacote de ajuda para empresas afetadas pelas altas tarifas dos EUA. O pacote se concentra em linhas de crédito para exportadores e compras governamentais de produtos com dificuldade em encontrar mercados alternativos. Se o governo brasileiro começar a competir com o setor privado pelo café, isso poderá afetar os diferenciais de preço físico. No entanto, nenhuma medida adicional foi tomada até o momento”, afirma.

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

acessar grupo whatsapp
Agritechnica 2025