Mercado da soja reage a clima nos EUA e tensão no Irã

Ataques no Oriente Médio, clima no Corn Belt e safra recorde no Brasil influenciam preços da soja e milho

16.06.2025 | 15:02 (UTC -3)
Mariana Carvalho, edição Revista Cultivar

A combinação entre clima adverso nos Estados Unidos, tensão geopolítica no Oriente Médio e a safra recorde no Brasil tem movimentado o mercado de grãos. Segundo a Análise do Especialista Grão Direto, os preços da soja seguem reagindo ao conflito entre Israel e Irã, enquanto as chuvas no Corn Belt ameaçam a área plantada nos EUA. No milho, a boa produtividade brasileira e o avanço lento da colheita pressionam as cotações, mas a demanda interna e os estoques ajustados podem limitar novas quedas. Confira: 

Como o mercado da soja se comportou?

Relatório de oferta e demanda: as mudanças na soja foram pequenas. Nos Estados Unidos, não houve alteração na produção nem nos estoques finais. Também não houve mudança nas previsões de produção para o Brasil e a Argentina, com um pequeno acréscimo nos estoques finais.

Boletim da Conab: a Companhia elevou sua previsão para a safra de soja 2024/25 para 169,6 milhões de toneladas, um recorde histórico, representando um aumento de 14,8% em relação à temporada anterior, que foi afetada pela seca.

Escalada do conflito: o novo ataque de Israel ao Irã agitou os mercados, especialmente o de petróleo, fazendo com que os preços disparassem nesta sexta-feira (13), impactando as cotações de óleo de soja.

Em Chicago, o contrato de soja para julho de 2025 encerrou a US$ 10,68 por bushel, com alta de 0,95% na semana. O contrato para março de 2026 também avançou, fechando a US$ 10,81 por bushel, um ganho de 1,98% no período. O dólar recuou 0,54%, encerrando a semana cotado a R$ 5,54. No mercado físico, os preços subiram levemente na maioria das regiões, acompanhando o cenário positivo dos contratos futuros.

O que esperar do mercado da soja?

Guerra Comercial EUA-China: a redução temporária das tarifas sobre a soja dos EUA, de 125% para 10%, permitiu compras simbólicas da China, mas o fluxo de importações continua majoritariamente voltado para o Brasil. As vendas semanais de soja dos EUA para a China despencaram para o menor nível de 2025, totalizando apenas 61,4 mil toneladas, o que representa uma queda de 74% em relação à média das últimas quatro semanas.

Nesse cenário, a Indonésia se destaca como o principal destino da soja norte-americana, enquanto a China já não figura entre os maiores compradores do grão dos EUA. Por outro lado, o Brasil segue sendo o principal fornecedor de soja para a China, dominando impressionantes 72% das exportações direcionadas ao país asiático.

Safra dos EUA: as chuvas intensas que atingiram o Corn Belt (Iowa, Illinois, Indiana) interromperam consideravelmente o ritmo acelerado de plantio da soja, prejudicando a janela ideal para a semeadura.

Caso essas chuvas persistam até 20 de junho, uma parte significativa das áreas ainda não semeadas pode ser completamente abandonada, o que resultaria em uma redução expressiva da área total destinada ao cultivo de soja, em comparação com as estimativas iniciais. Além disso, após 20 de junho, os produtores perderão a cobertura de seguro, o que aumenta o risco financeiro. As previsões climáticas indicam chuvas acima da média até 18 de junho, o que dificultará o uso de maquinário.

Clima chuvoso: as previsões climáticas para os próximos dias indicam chuvas acima da média no Corn Belt até 18 de junho, com acumulados de até 150 mm em algumas regiões como Iowa e Illinois. Esse volume de precipitacão pode dificultar o uso de maquinário, uma vez que os campos podem ficar alagados, tornando o trabalho de semeadura e cultivo mais difícil e menos eficiente.

Diante de tais condições, muitos produtores podem ser forçados a alterar seus planos de cultivo, optando por plantar culturas de ciclo mais curto, que oferecem menor rentabilidade, mas podem ser colhidas dentro do período ideal de semeadura.

Risco do agro brasileiro: a taxação das LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), atualmente isentas de Imposto de Renda para pessoas físicas, pode aumentar o custo de captação de recursos para o agronegócio, tornando essas opções de investimento menos atrativas. Isso dificultaria o financiamento de projetos no setor, especialmente em infraestrutura e produção agrícola.

A redução na oferta de crédito barato poderá afetar o crescimento do agronegócio, elevar os custos de produção e resultar em preços mais altos para os consumidores. A medida, embora traga aumento de arrecadação para o governo, poderá prejudicar a competitividade do Brasil em mercados internacionais e afetar o crescimento do setor agrícola.

As cotações da soja devem continuar reagindo aos eventos geopolíticos, especialmente o conflito entre Israel e Irã, além dos desdobramentos iniciais do acordo entre China e EUA. O dólar tende a seguir sob pressão negativa, podendo romper a barreira de R$ 5,50. Com isso, espera-se que os preços da soja em Chicago apresentem leves altas.

Como o mercado do milho se comportou?

Relatório de oferta e demanda: no milho, as mudanças também foram tímidas. Nos Estados Unidos, não houve alteração na produção, apenas uma leve queda nos estoques finais. No Brasil e na Argentina, a produção permaneceu inalterada, mas houve um acréscimo na expectativa de estoques finais.

Boletim da Conab: as estimativas para a segunda safra de milho do Brasil foram revisadas para cima, refletindo o aumento da área plantada e da produtividade da safrinha. Com isso, a produção total de milho no país é agora projetada em 128,25 milhões de toneladas, superando as 126,88 milhões previstas em maio pela Conab.

Colheita Safrinha 2025: seguiu avançando de forma tímida, com ritmo mais lento que o mesmo período do ano anterior. O estado do Mato Grosso segue liderando a evolução, seguido por Paraná e Minas Gerais, de acordo com a Conab. 

Em Chicago, o contrato de milho para julho de 2025 encerrou a US$ 4,45 por bushel, com leve alta de 0,68% na semana. Na B3, o contrato com vencimento em julho de 2025 caiu 1,97%, encerrando a R$ 63,30 por saca. No mercado físico, porém, predominou a pressão de baixa, com recuos registrados na maior parte das regiões.

O que esperar do mercado do milho?

Impactos do acordo entre China e EUA: o acordo comercial que reduz temporariamente as tarifas sobre produtos, impacta o milho também. Embora o impacto sobre o milho seja limitado, devido ao baixo volume de importação da China dos EUA, o acordo traz estabilidade ao mercado e cria a expectativa de um leve aumento nas exportações de milho americano para o país asiático.

No entanto, Brasil e Argentina permanecem como fornecedores competitivos, e o impacto nos preços é moderado, dado a safra recorde nos EUA e os estoques globais confortáveis.

Consequências da escalada da guerra no Oriente Médio: o Irã tem sido um  dos maiores compradores de milho do Brasil, ocupando a terceira posição em 2024 e se destacando como o principal comprador neste ano, absorvendo mais de 35% das nossas exportações, de acordo com a Secex. Além disso, o Irã é um fornecedor global relevante de fertilizantes nitrogenados, exportando mais de 4,5 milhões de toneladas anualmente, com o Brasil sendo um destino importante. Israel, por sua vez, é o terceiro maior fornecedor de Cloreto de Potássio.

Além disso, com a alta do petróleo, os custos de produção, incluindo o preço da ureia, também tendem a aumentar, onde  encerrou a sexta-feira com uma alta de 8,1%, e se a situação entre Israel e Irã evoluir para um conflito, o preço do barril poderá ultrapassar novamente os US$ 100.

Brasil vs EUA: a entrada da safra brasileira e a boa produtividade nos EUA pressionam os preços do milho para baixo, tanto no Brasil quanto nos mercados internacionais. No entanto, estoques ajustados e demanda firme devem impedir quedas acentuadas a médio prazo, segundo a Conab.

O atraso na colheita da safrinha pode restringir a oferta no curto prazo, mantendo preços mais elevados em algumas regiões. A competição entre Brasil e EUA deve aumentar na próxima temporada, especialmente nas exportações para a China e outros grandes compradores.

Exportações seguem lentas: na semana encerrada em 5 de junho, os EUA venderam 791,3 mil toneladas de milho da safra 2024/25, uma queda de 16% em relação à semana anterior, com os principais compradores sendo Japão, México, Colômbia, Coreia do Sul e Egito. Para a temporada 2025/26, os cancelamentos superaram as vendas em 29,6 mil toneladas, refletindo um ritmo lento nos contratos futuros. No total, as exportações somaram 1,691 milhão de toneladas, com um avanço de 3% em relação à semana anterior.

No cenário atual, as cotações do milho devem continuar sendo pressionadas pela evolução da colheita no Brasil. Por outro lado, a demanda interna deverá atuar como um fator de equilíbrio, ajudando a estabilizar os preços. No mercado internacional, o monitoramento do desenvolvimento da safra norte-americana continuará sendo crucial, com o potencial de gerar volatilidade nas cotações.

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