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No norte do Espírito Santo, produtores de café enfrentam um problema incomum. O ácaro-rajado, Tetranychus urticae, praga conhecida por atacar mamoeiros, passou a causar danos também em plantas de café (Coffea canephora) cultivadas em consórcio com mamão.
Essa associação, comum na fase inicial da lavoura, deixou de ser apenas uma estratégia de sombreamento e diversificação de renda. Tornou-se uma ponte para a infestação de uma praga que, até então, não causava prejuízos diretos ao café.
O ataque foi registrado em áreas de Boa Esperança, no norte capixaba. Mudas jovens de café apresentaram folhas deformadas, necrosadas e com queda precoce. Tecidos densos de teia, produzidos pelo ácaro, cobriam a face inferior das folhas.
Os pesquisadores estimaram infestação em até 30% das plantas em um dos campos observados. Embora os danos econômicos não tenham sido mensurados, os impactos podem ser graves por ocorrerem em período sensível de desenvolvimento das plantas.
T. urticae é uma praga polífaga, já relatada em centenas de espécies vegetais. No Brasil, é um dos principais problemas fitossanitários da cultura do mamão. Seu controle exige cuidados, pois o uso excessivo de acaricidas tende a eliminar inimigos naturais, o que favorece ainda mais sua proliferação.
Até o presente estudo, havia registros históricos esparsos do ácaro em café apenas fora do Brasil — como no Havaí, ainda no século XIX. Em geral, os ataques da praga concentram-se em folhas mais velhas, já formadas, onde o tecido é mais fácil de perfurar.
No Espírito Santo, no entanto, o comportamento foi distinto: o ácaro iniciou colonização diretamente nas folhas jovens, causando malformações, o que sugere adaptação recente e preocupante à planta hospedeira.
Os autores apontam a proximidade física entre mamoeiros infestados e cafeeiros em formação como um fator decisivo. No consórcio típico, o mamoeiro é plantado antes e cobre parcialmente o café. Isso garante sombra — benéfica para o crescimento inicial da planta — mas também abriga os ácaros, que preferem áreas com menos radiação ultravioleta. A migração dos indivíduos adultos ou ovos pode ocorrer com facilidade, principalmente quando folhas contaminadas de mamão ficam sobre as mudas de café.
Além disso, estudos indicam que a adaptação de T. urticae a novos hospedeiros pode ocorrer rapidamente, especialmente quando diferentes culturas são cultivadas próximas. Esse processo evolutivo, ainda não totalmente compreendido, representa um risco para outras espécies vegetais envolvidas em sistemas consorciados.
A prática da consorciação entre café e mamão visa reduzir custos, otimizar o uso da terra e antecipar receitas. Contudo, a presença do ácaro em planta não usual obriga a revisão das medidas de manejo integrado. A introdução de pragas em novos hospedeiros costuma gerar ciclos de controle mais complexos e onerosos.
Esse não é o primeiro caso em que o cultivo conjunto com mamão resulta em danos inesperados. Já se relatou infestação significativa de Tetranychus bastosi em feijão-caupi consorciado com mamão, em Petrolina (PE). Isoladamente, o feijão raramente sofre ataques dessa magnitude.
Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.24349/v72j-1ago
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